13.9.11

O corpo é a porta - o corpo é a ponte



O corpo é o maior mistério de toda a existência. Esse mistério precisa ser amado e intimamente investigado.

Aprenda a amar seu corpo, aprenda a ser compassivo com seu corpo, experimente penetrar em seus mistérios, para ser capaz de penetrar em sua própria consciência. O corpo é a porta - o corpo é a ponte.

Nosso corpo é um presente divino! Quando você se comunica com ele, as coisas se tornam mais fáceis. O corpo não precisa ser forçado, ele pode ser persuadido. Não é necessário brigar com o corpo – isso é ruim e, muitas vezes, agressivo. E qualquer conflito irá apenas criar mais tensão. Você não quer e não precisa estar e permanecer em conflito: deixe que o conforto se torne a regra. O corpo é um presente tão bonito e misterioso que brigar com ele é negar a existência do Grande Mistério. Existimos dentro dele e temos que reverenciá-lo, amá-lo – essa é somente nossa responsabilidade.

No Yoga as habilidades e limitações únicas de cada indivíduo devem ser reverenciadas. O corpo/mente é um presente de Deus para nos ajudar a descobrir a nossa graça, a nossa grandeza e o nosso valor e experimentar um profundo sentido de liberdade.

Para Eckhart Tolle, o corpo como porta para um estado de presença. Segundo ele, o Hatha Yoga e outras práticas ajudam a levar a sua atenção consciente para dentro do campo de energia interno do corpo.

“O corpo é um caminho, um ponto de acesso à vitalidade, às profundezas do momento presente. As pessoas devem ter consciência de que seu corpo está vivo. Ou seja, sinta que dentro de suas mãos, braços, pés, pernas existe uma vivacidade vibrante. Atenção em direção ao corpo interno percebendo que o corpo inteiro está permeado por uma sensação de vivacidade, a energia dentro do seu corpo, a energia da vida”.

O corpo é uma âncora para o momento presente. Ao praticar sentir seu corpo vivo, você pensa menos e se torna mais presente. Tira o foco da cabeça, das identificações com os pensamentos. Ao estar por inteiro no seu corpo, dificilmente há qualquer pensamento.

Então, o corpo pode ser uma porta para este estado de presença. Uma parte muito importante da prática de Hatha Yoga é a atenção consciente no corpo físico. Não no externo, mas no interno. Não importa como é esse corpo externo, se não é perfeito – a maioria dos corpos não é perfeita–, nós vamos para o corpo interno.

Fontes: Osho, O Poder do Agora.

12.9.11

Reflexões sobre sofrimento e felicidade



Por Tales Nunes

A vida de grande parte das pessoas hoje, na sociedade em que vivemos, é movida por um sentimento chamado descontentamento. Como se dá isso? Bom, para entender esse sentimento, vou começar falando pelo seu oposto, o contentamento.

A chave do contentamento está na aceitação. Aceitação de nós mesmos, das situações e das pessoas ao nosso redor da maneira como elas são. Essa aceitação chama-se, em sânscrito, kshanti. Não é sobre o simples comodismo que estou falando aqui, mas da profunda compreensão da diferença que existe entre o que eu posso e o que não posso mudar.

Em relação àquilo que tenho condições de mudar, devo me esforçar. No entanto, em relação ao que não tenho capacidade de mudar, somente cabe a aceitação sem resistência. Se não fizer isso, estarei gerando descontentamento e, consequentemente, sofrimento. Existe uma prece que diz:

Abençoa-me com a serenidade
Para aceitar graciosamente
Sem resistência
Tudo aquilo que eu não posso mudar.
Abençoa-me com a vontade
O esforço e a coragem
Para mudar aquilo que posso mudar
O que talvez precise mudar.
Abençoa-me com a sabedoria
Com claro discernimento
Para distinguir aquilo que não posso mudar
Daquilo que posso mudar.

Essa é uma prece bonita, que nos ajuda a internalizar a idéia de que há coisas que podemos e outras que não podemos mudar. No entanto, a oração não nos diz concretamente o que está dentro da nossa capacidade de transformação e o que não está.

Tudo o que sai através dos nossos karmendriyas (órgãos de ação), são ações controladas, mas nem sempre conscientes. Ou seja, temos de fato controle sobre as nossas ações. Porém, os resultados dessas ações estão totalmente fora do nosso controle, logo devemos aceitá-los, quais sejam, isso se chama Isvara pranidhana, entrega, fé.

Esses resultados podem ser de quatro tipos: a) pode acontecer exatamente o que esperamos, b) pode acontecer menos do que esperamos, c) pode acontecer mais do que esperamos, ou d) pode acontecer algo completamente diferente do que esperamos.

É comum ouvirmos (ou falarmos) frases como “eu nunca esperava por isso, eu fiz tudo certo!”, quando a expectativa está relacionada a coisas ou “eu nunca esperaria isso de você, porque fez isso comigo!?” quando a expectativa está relacionada a pessoas.

É importante entendermos que, se já é difícil mudar a nós mesmos, é totalmente impossível a forma de ser ou agir dos demais. Tentar mudar outras pessoas pode trazer descontentamento, assim como não compreender ou não estar aberto às mudanças delas. Digo isso porque passo por um momento em que estou sendo chamado a colocar isto em prática, numa relação amorosa. Aliás, essa foi a motivação deste texto.

Porém, como explicar essa situação seria um longo parêntese, voltemos ao assunto. Aceitando as situações que não podemos mudar e as pessoas como elas são, estamos prestes a nos livrar de pequenos e grandes sofrimentos cotidianos. Mas, para termos essa compreensão é necessário um pré-requisito fundamental: estarmos em paz conosco. E estar em paz consigo significa conhecer-se, ver e aceitar as próprias limitações e entender quais são as suas reais necessidades.

"Quem sou eu?" "Para que estou aqui nesse mundo?" Estas são perguntas existenciais que quase todos nos fazemos em algum momento. E mesmo quem não as formula de maneira consciente, sofre igualmente as conseqüências de não ter as respostas. Se eu não souber quem sou, não conhecer minhas qualidades e limitações, como saberei para que estou aqui neste mundo?

Todos sentem suas limitações, uns mais claramente do que os outros. Mas a diferença entre quem sofre com elas e quem não sofre, é que o segundo as vê claramente, as aceita e aprende com elas, cultivando kshanti; enquanto que o primeiro as rejeita e inconscientemente projeta essa falta nos outros. Ou seja, projeta a responsabilidade pela própria felicidade sobre outras pessoas.

No entanto, o problema é que, como disse anteriormente, o outro está fora do nosso controle e quase nunca corresponde a nossa projeção. E então o resultado é o descontentamento e o sofrimento. Por outro lado, se eu estiver bem resolvido em relação a quem sou eu, a minha auto-imagem, mas não tiver claro para que estou aqui, qual é o meu dharma, provavelmente estarei infeliz com o que estou fazendo. Infeliz com o trabalho, projetando a felicidade no futuro, nos finais de semana, nas férias de final de ano, na aposentadoria ou em bens.

Projetar a nossa felicidade em bens materiais é conseqüência, também, do desconhecimento de nós mesmos, das nossas reais necessidades. E quais são as nossas reais necessidades? Ter esse discernimento, na sociedade de consumo em que vivemos hoje, não é algo simples. A todo momento, nossos sentidos são bombardeados por estímulos e nossa mente é convidada a creditar que meios são fins. Por exemplo: preciso de um meio de transporte para me locomover a longas distâncias em um curto período de tempo na cidade.

Esse meio transforma-se num fim à medida que sou convencido de que preciso do carro X, capaz de correr na velocidade Y, a qual nunca poderei alcançar porque as leis de tránsito não permitem. Além disso, a publicidade promete que, com aquele veículo, terei a mulher dos meus sonhos e, finalmente, a minha felicidade. Essa confusão entre meios e fins acontece com tantos objetos que podemos acabar por acreditar que nossa felicidade depende de conseguirmos esse tipo de objeto.

Em resumo, buscamos contentamento em outras pessoas, em bens materiais, em viagens. Às vezes até mudamos de cidade e de vida, achando que a felicidade finalmente virá. Mas, após uma dessas mudanças, alguns meses se passam e a miséria existencial, volta às vezes até mais forte do que antes.

A busca pela felicidade fora de nós mesmos nunca tem fim nem traz contentamento. Pelo contrário, nos deixa mais longe da paz, dando voltas incessantemente na roda do samsara. É apenas quando percoremos o caminho de volta, de retorno a nós mesmos, que começamos a nos aproximar da paz e do contentamento que todos procuramos.


Tales é professor de Yoga e mestrando em Antropologia na UFSC.

9.9.11

Ouvir com atenção



"A maioria dos relacionamentos humanos se restringe à troca de palavras – o reino do pensamento. É fundamental trazer um pouco de silêncio e calma, sobretudo aos seus relacionamentos íntimos. Se faltar silêncio e calma, o relacionamento será dominado pela mente e correrá o risco de ser invadido por problemas e conflitos. Se há silêncio e calma, eles se tornam capazes de dominar qualquer coisa.”

“Ouvir com verdadeira atenção é outra forma de trazer calma ao relacionamento. Quando você realmente ouve o que o outro tem a dizer, a calma surge e se torna parte essencial do relacionamento. Mas ouvir com atenção é uma habilidade rara. Em geral as pessoas concentra a maior parte da sua atenção no que estão pensando. Na melhor das hipóteses ficam avaliando as palavras do outro, ou apenas usam o que o outro diz para falar de suas próprias experiências. Ou então não ouvem nada mesmo, pois estão perdidas em seus próprios pensamentos.”

“Ouvir com atenção é muito mais do que saber escutar. É estar alerta, abrir um espaço em que as palavras são acolhidas. As palavras se tornam então secundárias, podendo ou não fazer sentido. Bem mais importante do que aquilo que você está ouvindo é o ato de ouvir em si, o espaço de presença consciente que surge à medida que você ouve. Esse espaço é um campo unificador feito de atenção em que você encontra a outra pessoa sem as barreiras separadoras criadas pelos conceitos do pensamento. A outra pessoa deixa de ser “o outro”. Nesse espaço, você e ela se tornam uma só consciência.”

Fonte: livro O Poder do Silêncio, de Eckhart Tolle

Refletindo toda a sua beleza!

“Quando você observa uma pessoa e sente muito amor por ela, ou quando contempla a beleza da natureza e algo dentro de você reage profundamente, feche os olhos um instante e sinta a essência desse amor ou dessa beleza no seu interior, inseparável do que você é, da sua verdadeira natureza. A forma externa é um reflexo temporário do que você é por dentro, na sua essência. Por isso o amor e a beleza nunca nos abandonam, embora todas as formas externas um dia acabem.” Eckhart Tolle